Sunday, March 25, 2007

Paris 6

Jantar no Paris 6 é como jantar no Projac. Talvez um pouco pior do que isso: me senti numa cidade cenográfica do SBT. E não é só por causa da decoração supostamente parisiense. Os pratos são tão artificiais que dá pra achar que te serviram comida cenográfica.

Experimentei o restaurante há uns três ou quatro meses, depois disso ouvi gente dizendo que melhorou bastante, que o cardápio foi reformulado e que andam acertando mais. Pode ser. Mesmo assim não tenho nenhuma vontade de voltar lá.

O que mais me decepcionou foi a desonestidade da coisa toda. Pedi um caldo qualquer de entrada, não me lembro o nome agora, lembro que prometiam legume assim e assado, tempero esse e aquele, tudo gratinado com um bom queijo. O que veio foi uma sopa pronta de pacotinho servida em louça cara. O único cuidado que tiveram foi simular um caldo verdadeiro, para isso eles colocaram um ou dois aspargos decorando o prato. “Se colocarmos um aspargo ela nem vai notar que é sopa de pozinho”.

Aí veio o prato principal, um steak tartare que era de matar o guarda. Lembrava muito uma carne de quinta moída há uma semana e descongelada no microondas.

Fora a comida não ser nada boa, os garçons são suficientemente arrogantes para serviram num restaurante que pretende simular Paris. E eu ainda cometi a terrível gafe de pedir um talher para o sommelier. Toda aquela tapeçaria e veludo com aqueles detalhes em dourado e eu cometo o deslize de pedir um talher pro sommelier -- que só conseguiu me dizer que iria transmitir meu pedido ao garçom.

Ia me esquecendo, o cardápio de sobremesas é uma bandeja com réplicas em plástico e isopor dos doces que eles têm lá. Não comi, mas imagino que você escolhe um daqueles, eles te servem o doce de isopor mesmo, mas com calda de chocolate e redução de licor de cassis.

Eles prometem fazer você se sentir em Paris, o máximo que conseguem é fazer você se sentir no cenário de “As Pupilas do Senhor Reitor”.


Cotação: 1 sobrancelha do Albieri

Tuesday, March 06, 2007

Cecília

O dia em que o Cecília saiu de férias

Cecília é o melhor restaurante de comida judaica da cidade, só tem um defeito: não abre aos sábados. Nem em nenhum outro dia da semana.

Se pelo menos o Cecília abrisse às segundas daria pra provar os Kreplachs e Varenikes, duas massinhas muito leves e saborosas.

Se abrisse só para o almoço nas quartas, você poderia comer o Shpondre, uma costela deliciosa feita com cebola caramelizada acompanhada de falafel.

Se por acaso resolvesse abrir só às sextas, que era dia de feijoada judaica, daria pra provar uma excelente versão do tradicional prato da culinária brasileira, saboroso mesmo sem porco.

E se abrisse só uns minutinhos no domingo à noite, daria pra comer pelo menos as maravilhosas entradinhas. O patê de fígado de aves e ovos mexidos é de derrubar o quipá. E o tabule é só o melhor que já comi.

O Cecília ficava na rua Tinhorão, uma travessa ali ao lado da FAAP, e deixou de funcionar em outrubro de 2006. A proprietária, a Cecília, disse que continuaria a vender comidinhas numa rotisseria no Bom Retiro, mas não tive notícias sobre o novo negócio. De todo jeito, comer Cecília em casa não deve ter a mesma graça nem o mesmo sabor. Nem mesmo com um Hava Nagila na vitrola pra dar um clima.






Cotação: 4 quipás